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O desafio de renegociar dívidas em um ambiente de instabilidade no mercado de crédito e juros altos

Muito se fala, nos últimos tempos, sobre a possibilidade de empresas endividadas aderirem à Recuperação Judicial (RJ). No entanto, conforme abordamos no artigo anterior, a RJ deve ser vista apenas como a última alternativa para que uma empresa tente sobreviver. Dessa forma, o caminho natural que deve ser trilhado para evitar que uma companhia precise adotar esse expediente extremo é o de buscar, primeiro, uma reestruturação de suas dívidas de forma negociada e fora do âmbito judicial.

Estimativa feita por nós, da Virtus BR, aponta que, entre este ano e o início de 2024, o volume de dívidas que precisarão ser renegociadas seja de, pelo menos, R$260 bilhões.

A reestruturação de dívidas é uma tarefa complexa, que pode consumir um tempo precioso para os negócios e trazer desgaste para a companhia. Para ser bem-sucedido, o processo de renegociação com credores deve envolver, entre outras coisas, a contratação de assessores especializados na condução deste tipo de trabalho.

Endividamento generalizado

Embora alguns setores da economia sejam mais sensíveis às altas taxas de juros praticadas hoje no Brasil – e o varejo, em especial, ganhou os holofotes, de forma negativa, no início do ano, com o caso Americanas vindo à tona – a necessidade de renegociar dívidas é generalizada, atingindo empresas em grande parte dos setores da economia.

Vemos, por exemplo, empresas no segmento de geração e distribuição de energia, que teoricamente possuem uma previsibilidade maior de suas receitas e custos, também enfrentando dificuldades diante do aumento do custo das dívidas financeiras.

Muitas empresas têm tido suas dívidas roladas desde a pandemia. Com taxas de juros elevadas, como as atuais, as dívidas têm crescido exponencialmente, o problema virou uma “bola de neve”. Agora que essas dívidas estão vencendo, a reestruturação passa a ser questão de sobrevivência.

Entre os casos mais graves de empresas que terão de renegociar suas dívidas, nosso levantamento identificou, por exemplo, um conjunto de companhias cujo volume de caixa é insuficiente para lidar com as obrigações financeiras que vencem nos próximos 12 meses.

Entre as varejistas, em específico, esse movimento de deterioração vem se instaurando desde o ano passado, com os gastos com o serviço da dívida praticamente dobrando em relação a 2021, muito por conta da elevação significativa das taxas de juros observada no período.

Um fator que agrava ainda mais o cenário é o fato de os bancos estarem cada vez mais seletivos na concessão de novos créditos, assim como na rolagem de antigos. A crise da Americanas, assim como outros casos recentes relevantes (Light, Grupo Petrópolis, entre outros) culminou em perdas elevadas para os bancos e fundos de investimento, impactando de forma decisiva o comportamento dos agentes do mercado de crédito e resultando em aumento da aversão a riscos destes agentes e escassez de crédito. Afinal, a Americanas, por exemplo, possuía rating AAA (mais alta qualidade em termos de classificação de risco) e ficou insolvente da noite para o dia. Com isso, os agentes do mercado passaram a ficar mais diligentes, e o custo de captação, para as companhias que ainda conseguem acessar linhas de crédito, claro, ficou mais elevado.

Perspectivas ainda nebulosas

Pela sua complexidade, o atual cenário carrega um alto grau de incerteza, o que faz com que muitos empresários ainda tenham dúvidas sobre qual a melhor decisão a ser tomada (e o melhor momento para isto) para levar à frente seus negócios de forma saudável.

Uma mostra disso é que, mesmo sabendo que terão de renegociar dívidas com credores num futuro próximo, muitos deles ainda não buscaram empresas para prestar esse serviço.

A Virtus BR tem longa experiência nesse tipo de trabalho. Atuamos assessorando tanto credores quanto empresas em processos de renegociação de dívidas. No caso dos credores, nos últimos anos, assessoramos os bondholders da Constellation, em uma reestruturação no valor de US$2 bilhões, e os bondholders da Oi, numa operação de R$60 bilhões.

Já pelo lado de empresas, trabalhamos em diversos casos – incluindo reestruturações de diferentes negócios do Grupo Odebrecht – que juntos, totalizam cerca de US$5 bilhões em dívidas reestruturadas.

Queda da Selic tem efeito lento

Nem a expectativa de que a Selic comece a cair no segundo semestre deve reduzir a pressão sobre o caixa de empresas endividadas neste ano. Na prática, o que acontece é que o efeito da redução é lento. Serão necessários cerca de seis meses após o início da redução das taxas básicas para que os primeiros sinais positivos sejam percebidos e as empresas consigam levantar recursos para tirar planos de expansão de atividades e investimentos de longo prazo do papel.

Até lá, os assessores escolhidos terão de ser capazes de, em conjunto com empresas e credores, construir os caminhos adequados para viabilizar uma efetiva readequação das dívidas que permita a continuidade dos negócios.

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